CANÁRIO DA TERRA - CRIAÇÃO E SELEÇÃO
A criação de Canários é um instante fugaz no cenário
da Seleção
Quantos de nós possui esse dom especial de poder retirar um canário campeão no meio de um lote de 10
meio-irmãos, aos 2 ou 3 meses de idade ? Quantos de nós conseguiu educar os olhos, suficientemente, para reconhecer aos 2
meses um filhote junto a seus 3 ou 4 irmãos ? Que dom notável é esse???
Tecnicamente, Criação = Propagação
da espécie. Para nós, amantes de pássaros cujas técnicas de reprodução e multiplicação da espécie já estão dominadas e conhecidas,
agrega-se, obrigatoriamente ao termo criador, o de Selecionador.
O Canário da Terra, o Sicalis Flaveola, já de algum
tempo tem suas técnicas de criação conhecidas, definidas e descritas por inúmeros pesquisadores amantes desta espécie de pássaros.
Não cabe e nem é intenção deste nosso texto discuti-las, confronta-las ou contradize-las, porém é a de apresentarmos a nossa
visão à seleção do Canário da Terra.
À falta do famoso dom capaz de identificar num grupo de jovens pássaros o melhor,
somos obrigados a recorrer a velha máxima de que o trabalho de seleção constitui-se de 95% de transpiração e 5% de inspiração,
ou seja, visitas a criadores, conversas, pesquisas, apontamentos, anotações, observações, acompanhamentos, etc. para desse
conjunto tentarmos formar alguns conceitos que possam orientar nossa seleção.
A criação de Canários é um instante
fugaz no cenário da Seleção. Enquanto a criação se resolve em poucos dias a seleção exige uma grande dose paciência. Salvo
para aqueles beneficiados pelos ventos da sorte, a seleção é um trabalho solitário de observações e anotações por um período
mínimo de 2 ou 3 anos, com diversos indivíduos para uma amostragem sólida e com total isenção de julgamentos guardar para
recondução à criação os indivíduos de destaque.
Canários conheço muitos e os vi em liberdade em diversas regiões do
país. De muitos lugares trouxe exemplares, alguns com qualidades outros meros "comedores de alpiste". A seleção genética pode
ser comprovada mesmo com as aves em liberdade. Existem regiões onde os canários são de qualidade ímpar, superiores. Outras
são igualmente sabidas e conhecidas como o oposto.
O selecionador de Canários da Terra, Ivan de Souza Neto, me repassou
a seguinte frase: Sabemos que os Canaristas estão comendo poeira envelhecida dos Curiozeiros. Segundo o Dr. Giordano:
Os Curiozeiros aprendem com os criadores de Canários do Reino; agora os Criadores de Canário da Terra terão que correr
atrás dos Curiozeiros.
Inúmeros canaristas criticam essa constante citação aos curiozeiros, mas ambos são pássaros
canoros nacionais, a seleção deles é mais antiga que a nossa e indiscutivelmente, existem uma grande quantidade de curiós
já nascidos em ambiente doméstico, de primeiríssimo time. Além do que, só temos a ganhar com a observação e adequação aos
canários das experiências de seleção dos curiós.
Mas, quais os principais obstáculos? O que fazer para acelerar essa
nossa seleção?
Algumas medidas são de caráter individual e outras coletivas. No individual, que só a nós compete,
teríamos a mudança de antigos e arraigados conceitos, que ainda não liberam para a criação os bons canários, campeões de torneios
e temporadas. Despojamento de orgulhos para o reconhecimento das qualidades de canários de propriedades de terceiros e consequentemente
o convite a levar aquele canário a criação.
Ter com as fêmeas os mesmos critérios de seleção que se tem com os machos.
- Mas como? a fêmea não canta e nem participa de torneios? Pela avaliação de seus irmãos, pai e filhos. Uma canária
filha de um bom canário, que tem um irmão que passe numa primeira avaliação e principalmente se já criou e produziu filhos
de boa média de qualidades. Reservando para o criatório nossas filhotas. Essas novas F-1, filha de canários que demonstram
excelentes qualidades serão, a meu ver, a base de nosso criatório. Com elas daremos o verdadeiro início. As águas começaram
a correr daqui para frente. Essas canárias, filhas "desses" Canários serão no mínimo Meio Sangue (como dizem os criadores)
ou seja terão no mínimo 50% dos genes que resultam no bom canário. Estamos criando nossas matrizes. Estamos formando uma raça.
Essas canárias não terão preço. Não podemos nos desfazer delas sob pena de voltarmos a estaca zero. Ou partimos decididos
para a seleção ou seremos mais um Multiplicador de Canários. Não é isso que queremos. Não é esse nosso objetivo.
Pelo
aprimoramento da alimentação dos canários, pássaros mais saudáveis com certeza terão a disposição necessária para exteriorizar
todo seu potencial genético. Pela dedicação de maior carga horária ao pássaro, verificando se sua disposição é constante
e em diferentes ambientes. Uma constante vigilância na reprodução, rejeitando e impedindo a utilização de medicamentos
inadequados ou receitados por quem não detém os predicados nem o conhecimento para tanto, não criando assim problemas para
nossas fêmeas, esgotando-as ou levando-as a condições anormais e filhotes que apresentarão em pouco tempo quadros negativos
de saúde ou comportamentos inadequados por causa de algum desequilíbrio hormonal.
Transcrevo trechos do pensamento
e comportamento de um selecionador de curiós: não utilizar fêmeas sem um estudo profundo de sua genética, fenótipo e comportamento.
...... assim conseguimos traçar mapas da reprodução...... fiz um mapeamento genético de todas as matrizes..... .... para ter
uma linhagem definida......... na fixação de caracteres desejáveis. E que objetivos busca esse criador (ainda trechos):
..... excelente temperamento, possuidor de canto longo, boa voz e repetidor de canto ....
Parecem critérios vagos,
mas não o são. São, isto sim, de avaliações subjetivas, porém o conhecimento da espécie selecionada, a rigidez de princípios
e a persistência aos objetivos, resultam em vitoriosos frutos. Pássaros que quando são apresentados nos torneios causam uma
comoção geral. - Pura sorte ? Os que seguem por essa linha esperando que o acaso lhes sopre favoravelmente e lhes
dê os melhores pássaros com certeza ainda são daqueles que possuem pássaros caçados. Agora na impossibilidade dessa renovação
silvestre, passarão a ser ex-passarinheiros e num sem fim, recontarão as glórias de seu antigo pássaro caçado e participante
de uma época onde, na roda um canário de ponta dava 80 cantos.
Se o resultado esperado, é obter Canários que até o
olhar seja intimidador, devemos fazer uso na reprodução de pássaros de indiscutível valentia. Mas como não são criados para
brigas não podemos esquecer que a Freqüência de canto deve ladear a valentia . E a Fibra? Não é o mesmo que valentia? A
valentia é aquele destemor que possui o bom Canário que o faz enfrentar numa roda inúmeros outros canários sem se intimidar.
A Fibra , tal qual sandália de padre que mesmo desgastada continua pronta para a próxima peregrinação, faz o Canário sustentar,
por horas num torneio e durante sua vida, o canto altivo e o gestual característico indicativo de sua personalidade. O segredo
desta história é sempre anotar tudo, só assim de posse de resultados é que dará para saber se tais caracteres são hereditários
e como funcionam.
E o canto do Canário? Qual é o melhor ? Tenho a opinião que deve ser Típico da Espécie. E dentre
os típicos da espécie o criador poderá escolher o que soa melhor aos seus ouvidos.
Há anos atrás presenciei uma seleção
de cães pastores alemães por um experiente selecionador alemão: A cadela era recém parida; 9 filhotes. Após acurada observação
o selecionador separou 3 filhotes mandando descartar os demais. - Rígido demais? Não para a raça de cães pastor alemão.
A raça já está perfeitamente padronizada e no julgamento observou detalhes que destoavam dos objetivos da raça.
Evidentemente
que não tem comparações com nossos pássaros e nem preconizamos tal procedimento, porém só desejo demonstrar que o selecionador
precisa ser imparcial e seu julgamento de avaliação de seus próprios pássaros deve-se ater a critérios rígidos quanto aos
objetivos traçados. Os Canários que não se enquadrarem nessas avaliações podem ser transferidos a passarinheiros não criadores
ou com outros critérios de avaliação. O que não pode, de maneira nenhuma é levar à criação Canários de Segunda ou com falta
de caracteres desejáveis só porque são bonitinhos ou foram presentes de amigos.
Entendo que aqueles que estão a procura
de Beleza de Plumagem, e que tenham fixado esta característica como um dos objetivos, tem nas mutações um chamativo a mais
no nosso Canário da Terra.
Trabalhar com mutação de cor é muito mais fácil, por ser facilmente visível e não depender
de outros fatores: saúde do pássaro, alimentação, entre outros que provavelmente teriam influência na fibra e valentia. Na
imensa maioria das variações de cores estão envolvidos apenas 1 ou 2 pares de genes, então é mais fácil de controlar e estudar
e prever. Características como fibra e valentia podem ter mais genes envolvidos o que dificulta um estudo.
A mutação
não é uma degeneração ou um albino, transcrevo: Biologia : Variação hereditária, súbita e espontânea, em um indivíduo
geneticamente puro. As mutações na natureza consideram-se base da aparição biogenética de novas raças e espécies.
Segundo
o ornitólogo Paulo Flecha: Uma mutação é uma alteração genética. Ocorre em todo o reino animal (o albinismo ocorre na
espécie humana). O primeiro mutante não dá para prever ou fazer, digamos que é espontâneo; na duplicação do DNA ocorre um
erro de cópia; pronto pode ser uma mutação de cor. Mas erros de duplicação são raros, ocorrem de vez em quando.
Assim
sendo é válido o cruzamento de indivíduos mutantes com os normais desde que preencham ou somem qualidades ao plantel, o perigo
está na utilização dos recém introduzidos Peruanos e mais recentemente Venezuelanos. Ainda que somem certas qualidades ao
plantel deve o criador/selecionador ter fixo na memória que os produtos destes cruzamentos não são indicados para repovoamentos.
Como é grande o número de criadores que hoje utilizam esses canários oriundos de países vizinhos nas nossas fêmeas
nacionais, em pouco tempo saberemos da validade e oportunidade dessas introduções. O que efetivamente acrescentarão ao nosso
Canário ? O que mais além do Porte? Talvez a criação do futuro Sicalis Flaveola Sulamericanus.
Com tudo isto,
ainda estarei por muito tempo, atento a tudo que um Curiozeiro fala, por enquanto a poeira ainda está envelhecida, mas no
futuro, quero estar lado a lado.
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